Vamos combinar: a gente já conhece muito bem os roteiros dos filmes de heróis. A sinopse é mais ou menos a mesma em 98% deles e não vou exemplificar aqui senão podem reclamar de spoiler. De qualquer forma, já sabemos mais ou menos a ordem dos fatos nessas histórias. Mas, se é mais do mesmo, porque então eu gostei tanto de Mulher-Maravilha?
Como uma criança dos anos 70/80, a Mulher-Maravilha era minha referência de Super-Heroína, e cresci com a série de TV. Adicionando o fato de eu ser aficcionada por mitologia grega desde sempre, eu sempre tive essa paixão pela Princesa das Amazonas. Confesso que nem tinha expectativas por um filme da MM porque não queria que estragassem minha personagem favorita. Nem acompanhei muito o processo de produção, achava a Gal Gadot muito magra. Mas aí chegou o hype. E com ele eu vi que escolheram minha origem favorita pra eternizar na primeira versão no cinema!
O filme mostra a toda a origem das Amazonas e porque elas foram parar em Themyscira. Filha da Rainha Hipólita (Connie Nielsen), Diana tem o desejo de treinar como as fortes guerreiras mesmo contra a vontade da mãe. Com determinação e curiosidade ela acaba driblando a Rainha e aprende tudo com a tia, Antíope, vivida pela atriz Robin Wright que, como todo mundo já disse, está MARAVILHOSA.
As cenas em Themyscira são incríveis, tudo o que eu sempre sonhei. Uma ilha cheia de cachoeiras, escondida dos homens, com uma arena onde as Amazonas treinam. Ver aquelas mulheres fortes (no sentido literal da palavra) me levou às lágrimas. A coreografia do treino e das Amazonas em batalha é uma coisa fora do normal, de uma plasticidade emocionante.
A pequena Diana cresce ouvindo histórias dos Deuses e quando já é uma jovem mulher vê um homem pela primeira vez, Steve Trevor (Chris Pine), que acaba cruzando o portal e encontra Themiscyra. A partir daí começa a construção da Mulher-Maravilha. O filme é muito claro ao colocar desde o início o
tom de origem e mostrando pouco a pouco as sensações de Diana. Ela começa sem saber quem é e vai descobrindo seu poder. É uma menina inocente que vivia em sua bolha e não sabia nada do mundo. Que conhece a humanidade e fica tocada. Que com suas características femininas resolve que vai ajudar as pessoas que sofrem.
O filme mostra essa evolução, que ocorre antes do ponto em que a vemos em Batman VS Superman, mostra um personagem mais complexo que as versões cinematográficas dos outros, uma mulher completa: forte e habilidosa sim, mas também ingênua, sensível, humilde, sem medo de aprender.
Achei o filme com um roteiro sólido, que não se perde, como outros filmes da DC, e com um visual MARA. Cenas icônicas, como a Mulher Maravilha segurando chumbo grosso com o escudo me fizeram ficar pulando na poltrona que nem uma doida.
Maaaaaas, não canso em insistir que não é um filme para crianças pequenas. Eu sei que tem Mulher-Maravilha em calcinhas e fraldas, mas a gente tem que ficar atenta com esse tipo de coisa. Mulher-Maravilha se passa na Primeira Guerra Mundial e ela vai para o front. Apesar de não ter sangue, tem violência contra seres-humanos, tem criança chorando em meio a tiros, e outras cenas típicas de guerras.
Abra o coração e vá ver Mulher-Maravilha com pipoca e lencinho nas mãos. Depois me conta.
Classificação: Não recomendado para crianças menos que 12 anos.
Classificação PAC MÃE: Concordamos com a Classificação oficial. Cenas fortes de guerra. Melhor deixar as crianças com menos de 12 anos em casa dessa vez!
A primeira vez que assisti Empire Records foi quando ainda era criança. Passava na Record, depois Band, e ainda tinha o nome de Império dos Discos, em vez da terrível tradução do título que permanece até hoje, “Sexo, Rock e Confusão”. Naquela época eu adorava o fato de vários personagens existirem e terem sua parte do spotlight da história. Adorava o fato deles poderem colocar a música que quisessem pra tocar enquanto trabalhavam, de terem tanta variedade assim de sons, de serem todos amigos – ou inimigos – e da vida deles ter tanta coisa acontecendo. Naquela época, meu sonho era trabalhar numa loja de discos, porque eu tinha certeza que se isso acontecesse, eu teria um dia-a-dia tão interessante quanto o da personagem da Liv Tyler e da Renee Zellweger.
Depois de uns anos, eu comecei a enxergar a complexidade de toda a história. Sabe, pra eles, aquilo tudo não era tão divertido assim: uma personagem era taxada de piranha só porque tinha uma vida sexual ativa, a outra tomava inibidor de fome porque achava que precisava emagrecer; o outro cara tinha um amor não correspondido pela colega de trabalho, e ainda tinha a Debra, que tinha tentado se matar um dia antes do que acontecia toda a história. O quão divertido pode ser isso?! vomo
Hoje, aos meus 24 anos, eu consigo achar tudo isso e ainda ter a percepção de que Empire Records é uma mistura louca de toda a confusão de ser adulto. Eu ainda acredito que deve ser demais trabalhar numa loja de discos, e uma das minhas grandes vontades na vida é ter uma pra chamar de minha. Mas o que mais me sobressalta é como todo mundo ali, sem excessões, está bem confuso sobre sua própria vida.
O personagem que hoje eu sei porquê gosto tanto é o Lucas (Rory Cochrane). O Lucas é o personagem cuja a vida tá numa boa e ele só tem uma responsabilidade básica, que é fechar a loja com segurança. Aí então aparece um problema que ele tem certeza que consegue resolver. Não consegue. Aí ele acha que consegue resolver o problema maior ainda que causou… Mas não consegue. Não consegue, e admite sua fraqueza – e que naquele tempo inteiro, ele não sabia é de nada. E é quando ele finalmente admite que não sabe de nada, que ele recebe ajuda, e finalmente consegue resolver o tal problema.
né nom?
Não sei vocês, mas isso me parece o mais perto do que é a confusão de ser adulto, de achar que consegue, mesmo sem conseguir, e finalmente entender que precisa de ajuda, sim. Que a gente não vira adulto e entende tudo o que precisa fazer. Tudo o que é certo, errado, e que na real, na real mesmo, não existe muito disso nas nossas escolhas. É mais o que é bom, o que é ruim, e o que é indiferente – e a gente, pouco a pouco, aprende um pouco como isso funciona. Só um pouco. Porque ser adulto é perceber que até nossos pais estão perdidassos nessa coisa louca chamada vida.
Eu acho que Empire Records tem camadas tão complexas sobre o que é a vida, que depois de mais de 20 anos assistindo e reassistindo esse filme, eu não cheguei a conclusão de todas elas. Mas hoje, aos meus 24 anos, essa é a que mais se parece com a minha vida hoje. Com o quão confusa é a vida, e com o quão difícil é chegar à decisão mais coerente.
Encerro essa reflexão falando: se você nunca assistiu, não deixa 2016 acabar sem ter visto. Esse filme tá aí, desde 1995, esperando pra que você o veja. Vai!