James Bond celebra 50 anos e o céu não cai pra ele, como o título inicialmente pode prever. Monossilábico, espirituoso, Bond apanha mas nunca esteve tão na estica. Sofisticado, brutalmente implacável, vestido por Tom Ford.
A comemoração aliás rodeia-se de bons meios de produção e gente ilustre (atrás e à frente das câmaras).
E o resultado?

É quase tão empolgante quanto “Cassino Royale”, o filme que colocou a franquia nos eixos, inserindo James Bond no compartimentado e tecnológico século 21. Em “Skyfall”, Bond e o MI6 movem-se num novo mundo, onde a nacionalidade e rosto do inimigo mudaram, bem como na forma de combatê-lo. O herói sente-se um brucutu no meio das gadgets novas, tenta passar por cima da pirralhada que assume o controle, mas é zombado a altura: “Meu velho, de pijama no meu quarto, consigo fazer mais estragos em uma hora, do que você fez como agente em toda sua carreira”, diz o novo e imberbe “Q”.
Enfim, Bond se revela mais humano, frágil e falível e pra aliviar o stress, só lhe resta beber seu drink favorito, pilotar o Aston Martin DB5 – sim, o de “Goldfinger” -, e buscar nos métodos “old school” uma forma de se reinventar.
A entrada do vilão em cena, aliás, empurra o filme para uma maior densidade emocional. Javier Bardem brinca com o papel de vilão e se diverte criando o momento mais homo-erótico da saga. E o diretor Sam Mendes surpreende com os seus dotes para cenas de ação. Se, por um lado, mostra destreza para as cenas de ação (a sequência de abertura, em Istambul, é exemplar neste sentido), não se inibe de grandes momentos de “mise en scéne” (a cena, em Xangai, no edifício “transparente”, num hipnótico festival de luzes, cristal e sombras – a trazer à memória a cena dos espelhos no final de “The Lady from Shanghai”).
E o filme vai mantendo essa energia até que, curiosamente no rolo final Sam Mendes parece tropeçar. Quando Bond percebe que não consegue vencer o vilão no terreno tecnológico, decide atraí-lo para a fazenda Skyfall. Longe da ultrassofisticada rede de informações, o duelo entre o herói e seu arquiinimigo soa coerente, mas a direção de Mendes entra no piloto automático. O clímax é filmado de forma mecânica, sem esmero, sem paixão. Ao estabelecer a ordem da franquia nas cenas finais, Mendes parece se constranger. Deixa tudo arrumadinho para confortar os fãs, mas a inspiração parece abandoná-lo, talvez porque o que verdadeiramente sempre interessou no cinema desse diretor foi a inquietação, o caos do mundo contemporâneo.
É nesse ponto que percebo como durante toda a projeção estava torcendo para o céu cair para o herói. Seria muito mais ousado manter James Bond no terreno da vertigem. Atual e menos artificial. Não foi desta vez. Ouvir a clássica musiquinha da série no final me deixou frustrado, mas para os fãs é reconfortante. Não é mais que isso que eles esperam.
Hamilton Rosa Jr. – Jornalista e Crítico de Cinema, Filmes Nacionais e Estrangeiros, DVDs, Blu-Ray, HD-TV, Entretenimento, Cults, Preview, Estréias, Mostra, Festival.