Neste terceiro filme da série Batman, Christopher Nolan garante um desfecho épico, com direto a redenção e uma horda de fãs deixando o cinema empolgados. Vale o preço de uma inteira? Hum, satisfação pra mim só acontece nos trechos em que Anne Hathaway dá as caras. Anne encarna o símbolo de independência e não-submissão feminina com tiradas cáusticas e é uma maravilha vê-la exibindo as curvas naquele colant negro. Quando se curva então para pilotar aquela moto do morcego, vixe!
Nolan não consegue esconder a pressão de superar o capítulo anterior. Sua direção é tensa. Falta-lhe agilidade para ligar as muitas pontas soltas das suas várias histórias cruzadas. Na prática, deparamos com um drama típico deste tipo de “franchises”: mesmo quando integram cineastas de indiscutível talento, há nelas um “caderno de encargos” que contraria a fruição das emoções que colocam em jogo. Afinal de contas, o trabalho de Nolan é todo pontuado por este pressentimento, estranhamente sensual, de que o mundo pode-se desagregar a qualquer momento (de Memento ao festejado “A Origem” o foco é sempre este).

Mas aqui há algo que não combina bem na transição para um cenário quase real de um herói tão estilizado como Batman. Gotham City facilmente poderia ser uma Chicago ou Nova York e toda a teia de intrigas políticas, econômicas e sociais tem paralelismos com a atual conjuntura. A escala do filme é enorme, tanto em termos visuais como de narrativa e é exatamente aí que a coisa desanda: a ênfase é colocada nos problemas da cidade, o que acaba por fazer com que o herói pareça destoado no meio de tudo isto; a certa altura já não estamos num filme do Batman, mas num policial recheado de heróis e vilões normais: neste filme, mais do que nos outros, a cidade surge como a personagem principal.
No fundo, a visão de Nolan é demasiado séria para o seu próprio bem. Como é que se pode abordar as maquinações da Bolsa de Valores, a riqueza ilícita, o capitalismo desenfreado e a corrupção das instituições e a seguir inserir um contexto tão maniqueísta com um vigilante mascarado repleto de gadgets hi-tech e um bandido que parece saída da arena de Gladiador?
Talvez seja uma forma de confortar as audiências, mostrando uma clarificação do bem e do mal. Coisa que soube evitar de forma inteligente em “O Cavaleiro das Trevas”, mas nesse aqui não teve jeito.