Tava de saco cheio de tanto trabalho pra fazer. Faculdade consegue te assustar mais no final do período do que qualquer tipo de devaneio sobre ter meu cartucho de Pokémon roubado e minhas recém 200 horas tiradas de mim. Me permiti sentar, comer rosquinhas (ui) e deixar On The Road rodando em 1080p. Acredite: o filme é mais do que Bella Swan pelada.
Não li o livro “Pé na Estrada” que deu origem a essa adaptação de Walter Salles. Mesmo se tivesse lido, tenho consciência de que apesar de histórias iguais, a forma de expressá-las é diferente (literatura pra cinema). Assim digo para todos os filmes/séries/games baseados em quadrinhos, livros ou afins. Então analiso esse filme como um filme, separado do livro, e de um ponto de vista técnico totalmente meu, ok?

A entrada do filme é um pouco longa, mas já enche os olhos com a saturação. As cores realmente ditam os tons de sentimento de Na Estrada.
As cores e os ângulos de câmera (de tirar o fôlego quando temos a
perspectiva do passageiro). Mas pra entender melhor, preciso te dizer
que a história passa a acontecer quando o escritor Sal (Sam Riley) perde o pai e, percebendo que a vida perde muito dos sentidos que o prendiam a ele mesmo, acaba se unindo a Dean (Garret Hedlund), um Cazuza dos anos 50, e parte por aí pra experimentar coisas totalmente fora da rotina, sempre com muito sexo, drogas e música (as cenas de dança são espetaculares!).
Algo que me chamou muita atenção foram as personagens de atitudes muito
consistentes e facilmente analisáveis (psicologicamente falando), de
jeitinho subjetivo. Como quando Dean comenta “deve ser bom ter uma família” e há um corte de cena para uma estrada coberta de neve onde um carro voado passa com Dean ao volante. O vazio que o leva a fazer as coisas que faz. Isso é muito bonito, falando de poesia visual. É sensível.
Também me amarrei em como eles dois se envolveram. A amizade forte dá lugar a um tipo de paixão esquisita, que não fica clara mas dá pra sentir o cheiro (acho que a geração beat tem um cheiro muito específico…). No fim do filme dá pra perceber melhor. E adoro como tratam de sexualidade sem tabu nenhum. Às vezes, Dean me deixava triste. Mesmo que Sal dissesse que gostava de pessoas como Dean, que vivem intensamente, que buscam viver com tudo, eu só via uma casca. Uma casca tentando sentir qualquer coisa. Talvez tenha sido isso que Sal quis dizer, afinal.
Kristen Stewart tem peitos muito bonitos, obrigado, mas os gemidos… deuses! Ela geme muito mal! Só que vou tirar o chapéu pra garota: ela está maravilhosa. Além de legalmente loira, a mulher é linda até o osso. A fotografia e a iluminação só ajudaram a destacar essa beleza simples dela. Como personagem, Marylou, ela faz bem, é estável. No começo não parece, mas depois… O longa se segura muito bem nisso, em atores de calibre como Viggo Mortensen (que além de mostrar o saco escrotal, mostra que é um ator épico. Sem piadas com O Senhor dos Anéis, por favor) e Kirsten Dunst (que interpreta Camille, esposa de Dean).
Dou destaque especial para Amy Adams, que faz a Jane, drogadinha-mãe-de-família-louca-por-lagartixas. Uma característica do uso das drogas bem comentada no começo do filme é a tremedeira nas mãos. Amy, durante toda sua presença em cena, mantém a nível assustador a fidelidade a esse efeito. Dá um doce pra ela, tá, produção?
Acho que é um filme de busca, de correr atrás de qualquer razão, qualquer inspiração, seja pra viver ou escrever um livro. Fala de desapego e dos amores que não podemos amar.
Fala de se afogar em ilusões (hoje muito bem colocadas pela mídia, pela
“vida noturna descolada”, o que filmes desse tipo tentam quebrar em
paradoxo ao apoio que inspiram) pra entorpecer o “nada” da solidão, do
medo de sentir de verdade.
É uma trip, uma viagem exagerada entre dois caras que são opostos, mas que procuram um no outro o que lhes complete. Por isso os atores funcionam muito bem,
por isso o casamento do roteiro com a história brilha: ficou tudo
claro. Dá pra entender, acompanhar, sentir, se excitar, julgar e pegar
um carro pra voar pelas estradas de pureza só pra entender que depois
vamos querer voltar pra casa.
Se não fosse pela instabilidade narrativa (começa bem, fica mais ou
menos, fica ótimo e depois acaba), consideraria um ótimo filme. E me dá
dó não ter colocado o título entre meus favoritos. Mas cumpre proposta e
chega a parecer cult. Que bom que não é.