O FILME: Se o mundo fosse perfeito, “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” teria ganho o prêmio de melhor filme na última cerimônia de entrega do Oscar, mas infelizmente não vivemos em um mundo assim, e ainda por cima temos que nos sujeitar aos caprichos da indústria Hollywoodiana, que parece ter se esquecido a diferença entre uma obra genial (Moulin Rouge) e um filme careta e conservador (Uma Mente Brilhante, o grande vencedor).
Para quem sempre abominou filmes musicais, torna-se complicado achar as palavras apropriadas para elogiar um filmaço, ou melhor, uma Obra de Arte como “Moulin Rouge”, a mais espetacular produção cinematográfica dos últimos anos, um “tour de force” do diretor australiano Baz Luhrmann, que realizou um dos melhores trabalhos de direção do ano passado e nem sequer foi indicado ao Oscar – coisa de americano, acredite. É um filme perfeito, tecnicamente brilhante e com atuações dignas de aplausos (com destaque para Jim Broadbent, arrasador). Contudo, por se tratar de um musical, a força motriz são os números musicais, e é nestes que se encontra a grande “sacada” de Luhrmann, que utilizou obras atuais ao invés de reutilizar canções antigas ou compor canções originais, com exceção da belíssima “Come What May”, ignorada pela academia.
Como resultado, temos um filme musical envolvente, que em momento algum torna-se cansativo em razão do excesso de canções (o maior problema do intragável “Evita”, com Madonna). Como sempre, em se tratando de um filme revolucionário, muitos odiaram, mas gosto não se discute, e talvez esteja aí a razão de “Uma Mente Brilhante” ter levado o Oscar, pois é um filme fácil de ser digerido, com uma história convencional e sem um pingo só de criatividade, que ainda comete a heresia de brincar com uma doença séria e terrível, ou seja, produto feito para agradar as massas, o que “Moulin Rouge” em momento algum tem a intenção de ser.
A história da cortesã, Satine, que se apaixona pelo jovem escritor boêmio, Christian, é, desde já, uma das mais belas e comoventes histórias de amor já contadas no cinema, que como todo bom romance, deve enfrentar obstáculos para se concretizar. A perfeita química entre Kidman e Mcgregor é essencial para a credibilidade das cenas de amor, e em nenhum momento tornam as mesmas “piegas” ou “forçadas”, nem mesmo no espetacular e deprimente desfecho. É uma obra emocionante, que transborda de paixão e sentimento, que seu diretor sentia ao concretizá-la. Parabéns, Sr. Luhrmann. Muito obrigado por nos fazer acreditar que ainda existe criatividade dentro desta indústria capitalista chamada Hollywood.
O DVD: O melhor DVD já lançado em território nacional é o de “Star Wars: Episódio 1 – A Ameaça Fantasma” e o segundo é este DVD duplo, recém lançado, de “Moulin Rouge – Amor em Vermelho”, por coincidência ambos da Fox. A distribuidora já havia lançado, há cerca de dois meses, um DVD (rental) do filme, mas sem nenhum extra. Agora temos a oportunidade de conferir (e adquirir) este extraordinário filme em uma magnífica edição, essencial para qualquer coleção de respeito. Primeiro deve-se elogiar a Fox por ter inserido uma faixa com áudio em DTS, algo que nem o DVD de Star Wars possui.
Para se tornar um DVD perfeito, faltaram apenas legendar os comentários em áudio e um menu animado, pois apenas a introdução é animada. Com a impressionante quantidade de extras que acompanham o segundo disco, estes problemas quase passam despercebidos. A imagem é excelente, acentuando o espetáculo de cores que é o filme. O som, por sua vez, credencia-o como um dos melhores do sistema, perfeito. Quanto aos extras, no disco um, temos dois comentários em áudio. O primeiro com a participação do diretor, Luhrmann, a desenhista de produção, Catherine Martin, e o diretor de fotografia, Don McAlpine.
O segundo comentário conta com a presença dos dois escritores do filme, Luhrmann e Craig Pearce, infelizmente nenhum legendado. Finalizando os extras do primeiro disco, temos um especial denominado “Atrás do Veludo Vermelho: Uma visão interativa da História, Técnica e Artística de Moulin Rouge”, com detalhes sobre vários setores da produção. No disco dois temos uma abundância de extras de cair o queixo de qualquer fanático por DVDs: o obrigatório Making Of, excelente por sinal, com cerca de 26 minutos de duração; Os Astros, com entrevista com os cinco principais nomes do elenco; A História é sobre…, especial dividido em duas partes, uma entrevista com os escritores e outro em que o escritor, Craig Pearce, que faz uma leitura da abordagem inicial, explicando várias etapas por que passou o roteiro até chegar a sua concepção final;
A Sala de Edição, com uma entrevista com o diretor e com o editor, Jill Bilcok, e uma série de gravações inéditas, como a prévia nº 2 de “Come What May”, a prévia nº 1 de “Dance Across The Sky” (belíssima), “A primeira montagem do rap de Zidler”, em tempo lento, “A primeira montagem de Outside It May Be Raining até Meet The Boho’s” e “A pré-visualização da fada verde”; para encerrar, uma pré-visualização irônica do diretor com pedido de desculpa aos atores (hilário); A Dança, especial dividido em duas categorias: a) A Dança, dividida em entrevista com Baz, e uma série de especiais sobre as várias modalidades de danças, como o Tango, o Can Can, alguns com cenas estendidas e sistema multi-ângulo e b) Coreografia, com entrevista com o coreógrafo, John O’Connell, e um ensaio com os dançarinos, muito interessante e que merece ser conferido;
A Música, dividido em “A Jornada Musical”, entrevista com Fat Boy Slim, especial sobre o hit musical “Lady Marmelade” e o clip da ótima canção “Come What May”; O Figurino (que apresenta também especiais sobre outros setores da produção), abrangendo tudo sobre a concepção do figurino premiado pelo Oscar, com entrevista com a diretora de produção e produtora de figurinos, Catherine Martin, e uma série de documentários sobre efeitos especiais, projetos de cenário, produção gráfica e ainda entrevista com o figurinista, Angus Stradite, e o desenho de figurino das cortesãs, dos boêmios, das garotas do Can Can (ou garotas esplendorosas) e a lingerie do Tango; para finalizar, uma série de materiais publicitários, como fotos, cartazes de cinema, spot musical da trilha sonora e três trailers de cinema, dois de “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” e um de “Romeu + Julieta”, outro filme famoso de Luhrmann. E ainda como se não bastassem os extras, há uma série de especiais escondidos no segundo disco, cerca de 13, para ninguém reclamar.
Ufa! Acredite: para assistir tudo isto é bom se programar, são extras que não acabam mais. Junto com o DVD de “Star Wars: Episódio I”, este é um exemplo claro de um produto que beira a perfeição, pois só faltaram legendas nos comentários em áudio (Star Wars é o único DVD Fox que possui comentários legendados, o que o torna superior), pois todos os outros extras (com exceção dos trailers) são legendados em português.
Parabéns para a Fox por nos presentear com este maravilhoso lançamento, apenas esperamos que ela continue neste caminho, sempre melhorando a qualidade de seus produtos.