O FILME: O conhecido produtor Jerry Bruckheimer, especialista em filmes de ação descerebrados, como os péssimos “60 Segundos” e “Armagedoon”, entre outros mais toleráveis, como “A Rocha” e “Con-Air”, e um dos responsáveis pelo maior engodo cinematográfico do ano passado, “Pearl Harbor”, aliou-se com o diretor Ridley Scott, que após ter retornado ao topo com o sucesso de crítica e bilheteria de seu maravilhoso filme “Gladiador” viu sua imagem manchada pelo péssimo “Hannibal”, ambos resolveram investir em uma história real para procurar a redenção pelos seus equívocos passados.
Não só conseguiram se redimir de todos seus pecados como realizaram um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos (votado pelos americanos em pesquisas realizadas pela internet como o segundo melhor filme do gênero, perdendo apenas para o imbatível “O Resgate do Soldado Ryan”). “Falcão Negro em Perigo” é, sem dúvida alguma, o melhor filme produzido por Bruckheimer e figura tranqüilamente entre os melhores trabalhos de Scott.
É uma retratação fidelíssima de uma operação militar ocorrida em 1993, na Somália, quando tropas americanas formadas pelos Deltas (a elite do exército) e os Rangers (oficiais mais jovens, que sonham em se tornar Deltas) têm a missão de capturar 2 importantes generais aliados de um perigoso líder militar, que devido aos seus métodos administrativos desumanos, dentre outras coisas, confisca o alimento recolhido pela ONU e destinando aos africanos famintos para alimentar seus exércitos de mercenários, ocasionando a conhecida política da fome.
A missão, que tinha duração programada de apenas 30 minutos, logo entra em colapso quando duas aeronaves batizadas de “Falcões Negros” são abatidas pelas forças hostis, fazendo com que os soldados designados para a missão tenham que lutar pelas suas vidas durante um dia inteiro, enfrentando a fúria sem limite das milícias que os caçam impiedosamente pelos destroços da cidade africana de Mogadishu.
O que eleva “Falcão Negro em Perigo” acima da média é que ele não enfeita os fatos verídicos da história (o que enfraqueceu o vencedor do Oscar deste ano, “Uma Mente Brilhante”), ou seja, procura contar os fatos de forma direta, nua e crua. Quanto ao irritante patriotismo americano, devo ressaltar que o filme até pode possuir alguns momentos de euforia gringa, mas se os soldados aqui chegam a ser retratados como heróis, certamente não é pelos seus feitos gloriosos, mas sim pelo seu lado humano de se preocupar com o companheiro que luta ao seu lado.
Além da magnífica direção de Scott, o filme possui algumas qualidades que o tornam uma produção de primeira, como a fantástica montagem (ganhadora do Oscar), um deslumbrante trabalho de fotografia, uma trilha sonora poética e uma sonorização impecável (também vencedora do Oscar). Outro destaque é o elenco reunido para interpretar os soldados da trama. Josh Hartnett, após pagar mico em “Pearl Harbor” tem um bom momento como o jovem e talvez único Ranger que compreende realmente a situação precária do povo adversário.
Outro grande destaque vai para o desconhecido Eric Bana, que incorpora um soldado da unidade Delta, ator que literalmente rouba o filme e já chama a atenção para o filme “Hulk”, que será protagonizado por ele. Outros grandes nomes aparecem, como Ewan MacGregor, que comprova que sabe escolher papéis em grandes produções americanas como poucos atores de sua geração, e Sam Shepard, que vive o comandante da missão e um dos responsabilizados pelo desastre tático da mesma.
Minha única crítica quanto ao elenco vai para a irrisória participação de Orlando Bloom, que interpreta o elfo Legolas na Obra Prima “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, que entra mudo e sai calado.
Um detalhe sobre o filme, que chegou a irritar alguns espectadores quando foi exibido nas telas dos cinemas, é o fato de o mesmo possuir duas horas incessantes de ação, o que pode torná-lo um pouco cansativo para os desavisados, mas é mais uma característica do longa que mostra a fidelidade aos fatos, pois em uma batalha real não há tempo para diálogos edificantes. “Falcão Negro em Perigo” comprova esta tese.
Sem dúvida um dos melhores filmes do ano e que merece ser conferido, sobretudo pelos fãs de filmes de guerra, que têm a oportunidade de conferir algo raro no gênero: os americanos se auto-criticando.
O DVD: Nem sempre a comercialização de um produto fraco é de responsabilidade da distribuidora nacional. Vejamos o caso deste decepcionante DVD de um filmaço como “Falcão Negro em Perigo”: a edição disponibilizada em território nacional é praticamente a mesma lançada nos Estados Unidos, isentando a Columbia TriStar de qualquer culpa pela catástrofe.
Praticamente todos os menus são animados e musicados. Se não chegam a ser espetaculares, pelo menos dão dignidade ao produto. A imagem e o som estão magistrais, coisa garantida vinda de um filme tecnicamente brilhante.
Quanto aos extras, temos um Making Of com cerca de 23 minutos, legendado em português, que possui um bom material sobre a realização do longa, com depoimentos do diretor, produtor e com alguns atores explicando detalhes sobre seus personagens. Outros destaques vão para a escolha da produção em filmar no Marrocos, lugar considerado ideal para se recriar a cidade africana de Mogadishu, local do confronto. Ainda aparecem no disco dois trailers de cinema não legendados, dos filmes “Homem-Aranha” e “O Confronto”, ambos futuros lançamentos da Columbia TriStar, que pode ser responsabilizada pela falta do ótimo trailer do filme em destaque. Incompreensível!
Completando os extras, temos apenas as Filmografias dos envolvidos na produção. Um fraco DVD de um filme que merecia muito mais. Não descarto uma vindoura edição especial, que poderia vir acompanhada com um comentário em áudio do diretor e produtor, a presença do trailer de cinema do filme, mais alguns especiais sobre a realização do filme e o clip musical da belíssima música tema apresentada no canal por assinatura Soundtrack Channel.